segunda-feira, 28 de julho de 2014

A responsabilidade dos meios de comunicação quanto ao desenvolvimento do esporte

Por Leonardo Dias Saraiva
Colaborador Especial
Mestrando em Direito Público pela PUC/Minas
Advogado Especializado em Direito Administrativo e Eleitoral


Após a Copa do Mundo, muito se têm dito a respeito, especialmente por parte da imprensa esportiva, da necessidade de implementação de políticas públicas para desenvolvimento do esporte e do descaso e falência de instituições esportivas.

As críticas são pertinentes no sentido de alterar, modernizar ou mesmo de copiar modelos estrangeiros de desenvolvimento do esporte.

O tema é absolutamente pertinente, máxime diante do fim da Copa e com a iminente chegada das Olimpíadas Rio 2016, sendo quase unânime a opinião de que o evento, apesar de todo seu sucesso, não obteve êxito no que diz respeito às políticas esportivas.

Dentro desse contexto, é relevante tratar da análise do papel da imprensa quanto ao desenvolvimento do esporte, especialmente dos veículos de rádio e TV. A radiodifusão é concedida pelo Poder Público a particulares, possuindo função social, expressamente disposta na CF, art. 221, segundo o qual a produção e a programação das emissoras de rádio e televisão devem ter por preferência as finalidades educativas, artísticas, culturais e informativas.

Não se ignora o interesse econômico das concessionárias do Poder Público, todavia, o que se têm visto é um total desvirtuamento da função social dos meios de comunicação, que não têm dado qualquer atenção às políticas de esporte, vale dizer: não há qualquer programa esportivo, salvo raríssimas exceções, até mesmo na TV fechada, que tenha por temática o desenvolvimento do esporte de base. Não há transmissão de campeonatos regionais de esportes amadores, não havendo sequer remissão no conteúdo dos jornais esportivos a campeonatos universitários, modalidades mais especializadas ou mesmo a base no que diz respeito ao futebol, esse tido como paixão nacional. 

E não seria economicamente vantajoso transmitir o esporte amador? Sob esse aspecto é de se mencionar o bem sucedido modelo americano que conta com transmissão diária, por exemplo, do campeonato universitário de basquete, obtendo grande investimento de particulares e gigantesca audiência[1]. Não difere as transmissões, naquele país, de esportes como natação, atletismo e outros.

Todavia, o que se viu na Copa do Mundo é o que se vê diariamente nos jornais. Horas e horas gastas com questões totalmente alheias ao esporte, colocando-se atores e atrizes como se comentaristas esportivos fossem, humoristas como apresentadores, informações a respeito de relacionamentos afetivos, místicas e superstições acerca de questões totalmente alheias aos esportes em si. Os comentaristas se destacam mais pelo entretenimento do que pelo conhecimento e estudo dos esportes. O conteúdo da imprensa em nada contribui com o desenvolvimento da política esportiva em si (veja a sátira do Porta dos Fundos ao lado que ilustra bem o que estamos afirmando).


Sem falar na concentração de informações sobre o futebol de elite, em detrimento do esporte regional e amador.

Não se está aqui dizendo que se deve cercear esse tipo de conteúdo, todavia, há uma absoluta inversão de prioridades, o que pode ter refletido até mesmo no desenvolvimento do Brasil na Copa do Mundo, vide entrevistas dos jogadores acerca de samba, superstição, do namoro do principal jogador, ou seja, temáticas que somente afetam a concentração destes (visivelmente abalados psicologicamente com tais pontos), não havendo qualquer valorização ao trabalho e empenho desses atletas.

Não difere de tal situação a vivida por atletas olímpicos, desconhecidos durante a entressafra olímpica, mas que passam a ser salvadores da pátria durante os jogos, impondo-se a eles uma obrigação por algo que em momento algum buscou-se ajudar.

Assim, devemos refletir sobre o papel da imprensa, essa que se encontra atualmente em posição conivente com o Governo, porquanto não exercem seu papel de estimular o esporte em si, a base, sendo evidente que o apoio dos veículos de comunicação ajudaria no desenvolvimento esportivo, pois atrairia público e investidores. Isso repercutiria favoravelmente na sociedade, pois o esporte é importante meio de educação, saúde e de promoção social.




[1] Vale dizer que o ingresso da final do Basquete universitário americano, com apenas 1 jogo, custa o mesmo ou mais que um ingresso da final da NBA, na qual são disputados 7 jogos.

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