Por Leonardo Dias Saraiva
Colaborador Especial
Mestrando em Direito Público pela PUC/Minas
Advogado Especializado em Direito Administrativo e Eleitoral
Após a Copa do Mundo, muito
se têm dito a respeito, especialmente por parte da imprensa esportiva, da
necessidade de implementação de políticas públicas para desenvolvimento do
esporte e do descaso e falência de instituições esportivas.
As críticas são pertinentes
no sentido de alterar, modernizar ou mesmo de copiar modelos estrangeiros de
desenvolvimento do esporte.
O tema é absolutamente
pertinente, máxime diante do fim da Copa e com a iminente chegada das
Olimpíadas Rio 2016, sendo quase unânime a opinião de que o evento, apesar de
todo seu sucesso, não obteve êxito no que diz respeito às políticas esportivas.
Dentro desse contexto, é relevante
tratar da análise do papel da imprensa quanto ao desenvolvimento do esporte,
especialmente dos veículos de rádio e TV. A radiodifusão é concedida pelo
Poder Público a particulares, possuindo função social, expressamente disposta
na CF, art. 221, segundo o qual a produção e a programação das emissoras
de rádio e televisão devem ter por preferência as finalidades educativas,
artísticas, culturais e informativas.
Não se ignora o interesse
econômico das concessionárias do Poder Público, todavia, o que se têm visto é
um total desvirtuamento da função social dos meios de comunicação, que não têm
dado qualquer atenção às políticas de esporte, vale dizer: não há qualquer
programa esportivo, salvo raríssimas exceções, até mesmo na TV fechada, que
tenha por temática o desenvolvimento do esporte de base. Não há transmissão de
campeonatos regionais de esportes amadores, não havendo sequer remissão no conteúdo
dos jornais esportivos a campeonatos universitários, modalidades mais
especializadas ou mesmo a base no que diz respeito ao futebol, esse tido como
paixão nacional.
E não seria economicamente
vantajoso transmitir o esporte amador? Sob esse aspecto é de se mencionar o bem
sucedido modelo americano que conta com transmissão diária, por exemplo, do
campeonato universitário de basquete, obtendo grande investimento de
particulares e gigantesca audiência[1]. Não difere as
transmissões, naquele país, de esportes como natação, atletismo e outros.
Todavia, o que se viu na
Copa do Mundo é o que se vê diariamente nos jornais. Horas e horas gastas com
questões totalmente alheias ao esporte, colocando-se atores e atrizes como se
comentaristas esportivos fossem, humoristas como apresentadores, informações a
respeito de relacionamentos afetivos, místicas e superstições acerca de
questões totalmente alheias aos esportes em si. Os comentaristas se destacam mais
pelo entretenimento do que pelo conhecimento e estudo dos esportes. O conteúdo
da imprensa em nada contribui com o desenvolvimento da política esportiva em
si (veja a sátira do Porta dos Fundos ao lado que ilustra bem o que estamos afirmando).
Sem falar na concentração de
informações sobre o futebol de elite, em detrimento do esporte regional e
amador.
Não se está aqui dizendo que se deve cercear esse tipo de conteúdo, todavia, há uma absoluta inversão de
prioridades, o que pode ter refletido até mesmo no desenvolvimento do Brasil na
Copa do Mundo, vide entrevistas dos jogadores acerca de samba, superstição, do
namoro do principal jogador, ou seja, temáticas que somente afetam a
concentração destes (visivelmente abalados psicologicamente com tais pontos),
não havendo qualquer valorização ao trabalho e empenho desses atletas.
Não difere de tal situação a vivida por atletas olímpicos, desconhecidos durante a entressafra olímpica,
mas que passam a ser salvadores da pátria durante os jogos, impondo-se a eles
uma obrigação por algo que em momento algum buscou-se ajudar.
Assim, devemos
refletir sobre o papel da imprensa, essa que se encontra atualmente em posição
conivente com o Governo, porquanto não exercem seu papel de estimular o esporte
em si, a base, sendo evidente que o apoio dos veículos de comunicação ajudaria
no desenvolvimento esportivo, pois atrairia público e investidores. Isso repercutiria favoravelmente na sociedade, pois o esporte é importante meio de educação,
saúde e de promoção social.
[1]
Vale dizer que o ingresso da final do Basquete universitário americano, com
apenas 1 jogo, custa o mesmo ou mais que um ingresso da final da NBA, na qual
são disputados 7 jogos.
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